Anúncio de um banco:
” O SEU SONHO É COMPRAR AQUILO QUE SEMPRE QUIS? ”
Resposta: não, por acaso, não é. Por que raio haveria de ser???
Continuação do anúncio:
“Todos temos sonhos. Uma viagem. Trocar de carro. Remodelar a casa. Comprar um sistema de alta-fidelidade.”
Eu:
Eu também tenho sonhos: acabar de pagar o carro ao banco antes dos quarenta, acabar de pagar a casa ao banco antes dos setenta, ter um sistema de segurança social de alta fidelidade. Já agora, uns governantes de alta fidelidade, ser rodeada por pessoas com um sentido crítico de alta fidelidade e com uma capacidade de luta de alta fidelidade por aquilo que é justo para todos.
Anúncio:
“Mas, e se fosse possível realizar, ou melhor, materializar esses sonhos?”
Eu:
Hã? Ah, ainda bem que corrigiram o verbo, o que os senhores (entre muitos outros senhores e senhoras) querem é “materializar”, essa do realizar deve ter sido um lapso da língua publicitária. Seria lixado eu agora pegar neste anúncio e pedir-vos um empréstimo para realizar os meus sonhos. Nem eu tinha taxa de esforço capaz de aguentar tal pedido, nem os senhores capital de risco suficiente para investir.
O que dizes lembrou-me uma troca de palavras que tive há dias com uma pessoa de perfil tipicamente “burguês”, o novo rico, o que subiu a pulso (leia-se agarrado ao pulso de outro manhoso qualquer). Antes distinguia-nos o facto de este tipo ter, como prioridade na vida, comprar a casa e o carro mais chique do mercado, ao passo que eu achava preferível apostar na saúde a na educação. Pois há dias percebi que sou eu que fico a perder, porque até isso TEM de ser comprado. A assistência na doença e a escola gratuita já não existem, já não são opção. (É ver a sofreguidão do Filipe Menezes e do Valentim Loureiro em relação às escolas!)
O novo rico evoluiu, apostou na casa, no carro, na saúde e na educação, ganhou em todas as frentes. E que tem isso de mal? É que tb ganhou montes de amigos. Pode fazer as maiores barbaridades, que nada lhe acontecerá.
Assim nascem as ditaduras. Assim reina o sócrates.
Cinzeiro
rs rs realmente apetece responder! O que vale é que estas coisas criam cada vez mais anti-corpos, vamos ter esperança!
Cinzeirinha, assim nascem as piores ditaduras, aquelas de que não damos conta e contra as quais é bem difícil lutar. temos um franco ou um salazar? temos um estaline ou um pol pot? identificamos o inimigo e pensamaos em guerrilha, em minar, em bombas, em distribuir panfletos subversivos.
Mas quando temos estes tipos que poluem as “democracias” europeias e não só, que fazemos? distribuímos panfletos, chamam-nos loucos, dizemos que o rei vai nu, riem-se de n´so e de nós não fazermos um fato do mesmo pano. por que raio insistimos em querer ver? o dar de ombros é a atitude certa para todos os tipos de felicidade. somos masoquistas, amiga, nisto se tornou o nosso idealismo.
se calhar somos só pessimistas. “amanhã vai ser outro dia”, canta o Chico Buarque, em reacção a uma ditadura. procuremos esse dia, cruzar os braços é que não se pode.
abraço estreitadinho, amiga.
Jardineira,
os anúncios estão cada vez mais descarados! como as pessoas já têm alguns anti-corpos publicitários, como muito bem dizes, eles atacam com estas mensagens idiotas, pensando que estamos todos a dormir… eu não admito que me interpelem julgando que tudo o que quero na vida é ter dinheiro. aliás, duvido que, seja quem for, se pensar bem, possa de facto pensar que a felicidade seja um carro, uma viagem, ou remodelar a casa. mas os anúncios não são feitos para gente pensante. e nós vamos tendo esperança, é mesmo isso, esperança de que cada vez mais gente se possa a pensar.
beijinho